terça-feira, 31 de março de 2009

Intra-Útero

Ah,essa prisão em que resido. Desde quando estou presa?No envoltório de carne de minha mãe, já me debatia,tentando fugir. quando vi, estava em um pacote idêntico ao qual acabara de sair, e sei, que quando quiser, envolverei em mim outra mente inocente.
Moro onde todos moram, nesse pote quente, de carne, de osso e de sangue, que punge e tinje o que aprisiona.
Somos todos (sem exceções!),regidospor sinapses e pulsações. Sexo, cérebro e coração. Nessas entranhas estranhas com que convivo diariamente : uma alma cansada, fraca e eloqüente.
Vislumbro entre um e outro piscar, os outros condenados, meus irmãos de purgatório, que assistem seu tempo passar. Se mexem, sem nada desejar, além de consumir seus parcos corpos, nas tocas empilhadas que chamam de lar. Acreditam fielmente que são o que são, por evolução.
Presa, sem direção. Num corpo roto, num amontoado de tijolos tortos, num aglomerado de buzinas e perigos, numa continuidade infinita de "sins e nãos". Tudo o que preciso é a esperança, a dúvida, a espera de quem sabe, um talvez.
Meu destino é o abatedouro. Até lá, por favor, meio quilo de filé. Vou consumir o que me consome, e tentar entender, buscar uma explicação qualquer, para esse fenômeno. o de ainda estar em pé.
Mas afinal, quem rasga as cortinas da própria casa?
Essência viva, dentro de carne que respira, dentro de construção que civiliza, dentro de cidade que multiplica, dentro de cérebro corrupto que desumaniza, dentro de carne que respira, dentro essência viva.



Texto que eu escrevi para um concurso de redação (que fui obrigada a participar).O tema era "O lugar onde moro"...depois de 3 anos fazendo redações sobre esse temazinho insólito,resolvi escrever minha visão e não a visão que queriam que eu tivesse...evidentemente não fui classificada,hehe.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Despotismo livre
Racionalidade apaixonada
Eternidade temporal
Atemporalmente passageira

Retardo evoluído
Revolucionante primata
Primeira decadente
Acaso programada

Sistemática espontânea
Expoente consciente
Consciência concreta
Palpo dissolvente

Estatisticamente única
Movimento fixado
Corpo espiritualizado
Onisciência amnésica

Primordial repetição
Férrea anemia
Beleza monstruosa
Sentimentos frios

A contradição das contradições
O antônimo que simula
O sinonimo que é ser
Sempre nesse findo momento
Exatamente humana

segunda-feira, 16 de março de 2009

Por hora,a calma
O terrivel dissabor
Do esquecimento
Por estes,ora
Flagelo de sua consciência
Estupor esplêndido,
Não se arrepende

Quem sabe agora
Dê o passo,início
Que insiste em retroceder
Quem sabe,chora
Nas bonecas estocadas
O canto que nunca foi ouvido,
Nos sorrisos inocentes
O amarelar da precoce malícia
Que murcha o botão de flor
Menina que cresceu

Mas olha!É forte
Mantém em seu peito
O desvelo angustiado
De quem há muito,
Está programada
Síntese prolixa
Pincéis que ruborizam
Elegância que amofina

Mas vejam,como roda
Saudosa esta senhora
Recorda-se das brincadeira infantis
(As que foi renegada)
Nos braços desse homem
E de tantos outros,
Que mal conhece...
Não mais se percebe
Quanta entrega!
Que maravilhoso espetáculo
É vê-la rodar,
Não lhe falta nada
Além da vontade de parar

Seus homens se cansam
e outros ansiosos tomam seu lugar
Dançar com tal dama
É toxina que vicia
É fada virgem fugidia
É o mel dos lábios da donzela

Mas minha amiga,
Volte para esse mundo
essa noite também já terminou
Ponha seu vestido no lugar
Limpe os suores que escorrem
Sorria docemente
E agradeça a cortesia
De ter vivido sua vida inteira
Durante esse luar,forasteiro
Está pronta para a morte
que a segue,que a espera
Para o futuro incerto
Que persegue
E pelo pé a embaraça
Pelas escadarias a arrasta
E nem ao menos o sapato
Solução tão singela
Deixará para o resgate

Está presa
Pelo invólucro indecente
De sua graça,majestade
Rainha de sua vida
Por uma noite inteira

domingo, 1 de março de 2009

Ao caralho com os subterfúgios conscientes,de uma mente que dorme...mal respira.
As favas com as delongas,as meiguices,a vã castidade com a qual as meninas se pintam.
Ao inferno Você,com suas mentiras cômodas,com sua poltrona em meio,com um mísero jantar.Estão mortos.
Cansei de ser rodeada por aquilo que não sou.E quando vejo meu reflexo,não me vejo,mas vejo-os:silenciosos,tristes e mau amantes.
Me recuso a ser o que estou fadada para sê-lo,desde antes de nascer;minha primeira saudosa morte.
Coroemos então,as primeiras mortes,não a um tolo qualquer.Ele mente,fingindo-se tolo.Bebam avidamente,sugam da fonte a ambrosia envenenada,o néctar de suas rotinas e indagações silenciosas.
Quero meu parto,minha entre-partida,meu seio pelo tecido;minha primeira,bela e unica morte de volta!
Estou cativa,sem que dessa vez o deseje.


Desculpem-me,pelas irregularidades,pelos erros,ou sei lá o que tem aí em cima.quis o texto ficasse da manerira como foi feito,de fôlego,salvo pequeníssimas mudanças que fiz posteriormente.