segunda-feira, 30 de novembro de 2009

E finalmente, num abraço frio se enlaçaram novamente.
Ele a tanto tempo se fora, com tal violência se separaram, em um tão súbito desesperar. Foi de repente. Era como se tudo o que viveram de bom não passasse de devaneio ante a nova realidade impugida. Ela, pobre! Por louca a tomaram. Agarrou-se febril a sua ilusão. Lágrimas e injúrias. Saudade e purgação. Sua solidão tamanha, que quando em espasmos, o desespero tornava-se histeria, a pontapés e tapas afstava os que tentavam se aproximar. Somente o queria.
Ele via tudo sem poder interferir. Seguiu seus passos, sofreu com ela. As lágrimas que vertia, invisíveis, abençoava a desgraça que os contemplara.
Anciosa, ela esperava a morte. Maldosa, a morte se demorava nela.
Era morte viva, era viva chaga que não tem cura, era chaga que mata por viver demais.
Ele, horror e desvario. Tocava-a sem alcançar. Amavam-se todas as noites, e febris no abraço que não conseguiam completar, paravam, no entremeio do gozo que não mais se proporcionavam.
Nenhum homem a tocou novamente, e nenhum sentimento novo a acometeu. Ela o prendia.
Ele queria continuar, mas não podia. Não sem ela. e com a mesma ansiedade a esperava. Mas a morte só tocara ele.
Mas um dia...ah, que feliz dia aquele! Ela adoeceu. Tinha uma dessas doenças que não curam, que devagar machucam cada vez mais.
Com tal alegria abraçou seu fim concedido, que voltou a sorrir. Animou-se. Ao acordar cantava e dançava no quarto, e quando as dores horríveis a acometiam, gargalhava impaciente. Era tamanha euforia que na valsa que rodava com seu destino, ele a enlaçava. Quase se sentiam.
E aconteceu. Dolorosamente chegou sua hora. Seu fim foi horrível. Entre máquinas e tubos que impediam seu intento... mas aconteceu.
Desvencilhou-se daquele corpo velho e tal como se separaram, ele a buscou.
Ela sorriu, agora tímida. Ele com medo, estacou. Sem que se movessem, estavam unidos. E num suspiro que já não era necessário, abraçaram-se.
Indefinidamente dançarão a valsa do reencontro.

domingo, 6 de setembro de 2009

O vazio que explica, a profecia malditade de estar vazio. Na vontade, o frio de mais um cálculo, inexato. Fechar os olhos não escurece o que não quero ver. Pedir perdão, aos pés da minha própria imagem, já não expurga o erro de continuar.
No choro, a hipocrisia da minha fragilidade, e maduro, rio as escondidas, do despeito da compaixão. Já não posso parar, e os olhos arregalam, face a face, no espelho da alma perdida.
Fugas agora custam caro, te puxam pelo braço, e na cerne do meu ser, cobram o vício que não quero ter; o presente.
Do baralho, puxo o sétimo Ás, e das verdades da trapaça, só tenho a maestria de fazê-la... consecutivamente.
O apelo perde-se no eco da resposta, e oco retorno ao processo da minha perdição, onde já estou graduado.
Doce mente que se cala em todos os momentos, onde, precário, lhe pergunto qual é a razão. Mortais são meus instintos banais. Irreversível é o despertar de manhã.
Com ciência do final do capítulo, releio as páginas amareladas, umedecidas cautelosamente com saliva.
E no final, volto ao começo predito, e num conformado suspiro, piso nos passos marcados, do mesmo caminho.
Estou retrógrado na ida, ancioso na volta.
O avesso explica o lado de fora. Cada vez mais remendado por dentro, pelo exterior uniforme.
as chagas não sangram, enquanto as cicatrizes purgam. trago em meio o sorriso torto, e na ressurreição, a esperança, de quem sabe dessa vez findar.
Mas o irreverssível, é o despertar de manhã.


Esse foi um dia triste, mas que me gerou alguns textinhos... Já não acho esse dia tão ruim.

sábado, 22 de agosto de 2009

E no mais íntimo do seu trago, o vento fustigou-lhe a face, e veloz, contou seus segredos, que ela, de longe conhecia.


Subjugando seu destino, cravou da impunidade seu sorriso atroz... e pela curva em que fora feita, no profundo do seu gozo, desfez-se em sua tez, a certeza... chegara a hora.


De braços abertos, em sua torpez de:


-Entregar-me? Nem agora!


Destruiu-se, mais uma vez.


Docemente, afundou em si mesma, cerrou os olhos para fora. Embargou, no seu último sorvo, tudo o que dantes tivera aos poucos.


Nenhuma lágrima escorreu, nem o mínimo sentimento de pesar, já não sentia... era sentida.


E em seu seu trago transformara-se.


Flutuou livre, rarefeita espalhava-se, fragmento de pluma, pó de estrela...

Una em sua condição dúbia, sorriu mais uma vez...e tragou a si mesma...


Devo esse texto aos meninos de BH, saudades.

sábado, 25 de julho de 2009



Foi um bom dia, quando eu fiz essa foto.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Esmero, saliente pulsar. Como consiguirei desligar-me? Sou em roda, a fortuna que me atordoa, e fujo, correndo perigosamente em círculos obscuros. estendo o olhar à orla dessa abismo... Como admitir que o reflexo do azul, seja esse marasmo violento em tons dantescamente espalhados: marrom esverdeado; do início ao centro, desespero diluído, código morse ininteligível. A cabeça reclama aos pés que não ande, e os pés estendem o momento, no passo dado em falso... os pés já não pensam, a cabeça já não anda e, nesse segundo opressor, repete-se o encanto, num escasso sussurrar de lamento, súplica e enganosa dor.
Dou as costas, vou-me embora, rasgando minhas patas em espinhos coloridos. Deixo marcas, sei disso, nessa areia, nesse solo, onde só me descomponho. Uma brisa acaricia minha face, e num impulso arrepiado, volto-me aos meus passos. Mas, oh! Nunca passara por ali, apagada estava. Encontro uma morbidez lisa, fingindo-se inocente, tirara de mim o sangue, apagando as provas rapidamente. Alimentara aquilo que nunca antes conhecera.
O que preciso fazer para marcar, qualquer relevo que não seja o meu? Como faço, sendo uma incógnita, sendo um simples número que se perde e finda, sem nunca somar-se a outros irmãos?
Estou como feto, pronto a abortar o seu ventre. Seguro meus joelhos e sinto novamente o vento... ataca-me o vento! Me cobre a aurora espelhada, os pequenos grãos. Seria essa a resposta afinal? Unifico-me naquilo que não posso suplantar. Nem semente, uma esperança demente, consigo transformar. Não cresço, nem descreço. Mas mereço, sem dúvida mereço, esmoecer nessa massa, que já galga minha garganta. E minha voz, dantes já tonitruante, torna-se enfim a voz de todos. Sou reflexo do espelho. Imagem mutilada do que fui. Sou agora mais que tudo, marrom esverdeado tentando representar o azul.


Achei esse texto jogado no meu quarto... não me lembro quando o escrevi, nem do meu estado de espírito ao escrevê-lo...mas achei interessante colocá-lo aqui.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

E no segundo ato, está sentada de frente para o palco, observando as
cortinas vermelhas.
Ansiosa,a atriz aguarda o início da sua peça.
Os três sinais soam, e em meio as luzes apagadas, apenas no palco, há um círculo de luz, esperando para iluminar a grande estrela.
E nada acontece.
Aqui e ali ouvem-se tosses que disfarçam o constrangimento da espera. O tempo se arrasta, e pequenos resmungos podem ser ouvidos.
O homem forte, colérico, grita suas reclamações. E a mulher lacrimosa, pensa no desperdício de seu único dia de folga mensal. Lentamente, o barulho cresce, se espalha e ecoa por todo o teatro.
Os expectadores exigem, agora aos urros, uma peça correspondente ao preço que pagaram. Se- nhoras de conjuntos em tons pastéis, reclamam do país, e de sua evidente culpa pelo fracasso da peça. Homens convencidos pelas vozes estridentes das esposas, foram procurar a administração do teatro, e é de um senhor que se escuta a primeira vaia.
Em coro, a platéia vaia ensandecida, e os mais revoltados, jogam lixo no palco.
A atriz, profissional, segue o roteiro. Se levanta, puxa uma cesta que estava embaixo da sua poltrona, e entrega tomates e verduras (podres) à platéia, enquanto incita as pessoas contra a peça.
Nas cortinas, agora há manchas de imundície. Do chão de madeira escorre fétido líquido repugnante. As pessoas estão raivosas. Brigam entre si. Aquele homem grita com a namorada, a culpando pela idéia do teatro, cerveja em um bar é muito mais romântico para um casal que comemora seu primeiro ano de namoro. Muitos os que se sentam na frente, discutem e agridem, os que se sentam nos fundos, pelo lixo que jogaram no palco e fatalmente caiu em cima deles.
Os homens que foram a administração voltam com a notícia. As portas do teatro estão trancadas, não há como arrombá-las.
O pânico se espalha, as mulheres gritam, a grávida começa a passar mal, os celulares não dão sinal. Estão presos...
O teatro é tomado pelas pessoas, invadem o palco, e nas coxias, em meio a destruição que causam, procuram uma saída. Alguns espertos, aproveitam a situação e roubam bolsas, carteiras e o que encontram de valor pelos camarian.
Já faz um bom tempo que estão trancados, e da fúria nasce a semente do medo, e sem que ninguém mande todos ficam juntos, na parca iluminaão do palco.O silência, gradativamente se instala, e olhos arregalados tentam enxergar através da escuridão, lenços perfumados contra os rostos tentam disfarçar a podridão de suas próprias ações.
Desse silêncio, um lamento verdadeiro surge de alguns, e outros se organizam para arquitetar uma maneira de sair dali. Vão tentar novamente arrombar as portas, e quando vão bruscamente de encontro a uma delas, ela cede, aberta...
O alívio se estampa no semblante de todos, e aos empurrões e em meio a correria, atropelam-se, lutam pelo privilégio de fugir do teatro antes que os demais.
Por fim, os velhos e as mulheres mais frágeis conseguem passar pela porta, que se fecha novamente.
As luzes se acendem, e a atriz emocionada, aplaude frenética, de seus cabelos tira uma flor que atira no palco.
Por muito tempo ela fica no mesmo lugar, chorando silenciosamente, sensibilizada pela maravilhosa apresentação que assistiu.

FIM DO SEGUNDO ATO

terça-feira, 14 de abril de 2009

Lua cheia
E a passagem
É cada vez mais estreita
Acossado como bicho
De meu, só possuo os instintos febris
A clamarem,
A me impelirem, ao menos
Ao subviver

Tudo está assim.
Olho ao redor
E percebo
Sinto o odor,
O sentido, tato pegajoso
De meus irmaos de espécie
Minguarem
Inexorável mente
Um pontoNo infinito que antes fors
Só nos resta, procurar coragem
Mas o conforto,
Apazigua nossa pressa

disfarçados em peles de seda
em ações de pelica
Emplumados como pavões,
Crescentes em reticências
Para que assim esqueceçamos nossa
Verdadeira forma
Aumentamos aquilo que nunca seremos
Ego em cheia.
Balão lotado de ar
Frágil e suntuoso,
Explodirá?

Com olhos brilhantes
Aguardaremos a nova
(invisível prisão)
Rotina
Fase a fase
De acalantos de ninar
A gemidos de um suposto prazer
Retidos estaremos
Em ações governadas

Quem sabe
Não reste ainda
O reflexo de uma estrela fugidia
Pelo esplendoroso céu
Que antes,fomosUma baça lembrança
Terá que me contentar
Até a próxima maré

terça-feira, 31 de março de 2009

Intra-Útero

Ah,essa prisão em que resido. Desde quando estou presa?No envoltório de carne de minha mãe, já me debatia,tentando fugir. quando vi, estava em um pacote idêntico ao qual acabara de sair, e sei, que quando quiser, envolverei em mim outra mente inocente.
Moro onde todos moram, nesse pote quente, de carne, de osso e de sangue, que punge e tinje o que aprisiona.
Somos todos (sem exceções!),regidospor sinapses e pulsações. Sexo, cérebro e coração. Nessas entranhas estranhas com que convivo diariamente : uma alma cansada, fraca e eloqüente.
Vislumbro entre um e outro piscar, os outros condenados, meus irmãos de purgatório, que assistem seu tempo passar. Se mexem, sem nada desejar, além de consumir seus parcos corpos, nas tocas empilhadas que chamam de lar. Acreditam fielmente que são o que são, por evolução.
Presa, sem direção. Num corpo roto, num amontoado de tijolos tortos, num aglomerado de buzinas e perigos, numa continuidade infinita de "sins e nãos". Tudo o que preciso é a esperança, a dúvida, a espera de quem sabe, um talvez.
Meu destino é o abatedouro. Até lá, por favor, meio quilo de filé. Vou consumir o que me consome, e tentar entender, buscar uma explicação qualquer, para esse fenômeno. o de ainda estar em pé.
Mas afinal, quem rasga as cortinas da própria casa?
Essência viva, dentro de carne que respira, dentro de construção que civiliza, dentro de cidade que multiplica, dentro de cérebro corrupto que desumaniza, dentro de carne que respira, dentro essência viva.



Texto que eu escrevi para um concurso de redação (que fui obrigada a participar).O tema era "O lugar onde moro"...depois de 3 anos fazendo redações sobre esse temazinho insólito,resolvi escrever minha visão e não a visão que queriam que eu tivesse...evidentemente não fui classificada,hehe.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Despotismo livre
Racionalidade apaixonada
Eternidade temporal
Atemporalmente passageira

Retardo evoluído
Revolucionante primata
Primeira decadente
Acaso programada

Sistemática espontânea
Expoente consciente
Consciência concreta
Palpo dissolvente

Estatisticamente única
Movimento fixado
Corpo espiritualizado
Onisciência amnésica

Primordial repetição
Férrea anemia
Beleza monstruosa
Sentimentos frios

A contradição das contradições
O antônimo que simula
O sinonimo que é ser
Sempre nesse findo momento
Exatamente humana

segunda-feira, 16 de março de 2009

Por hora,a calma
O terrivel dissabor
Do esquecimento
Por estes,ora
Flagelo de sua consciência
Estupor esplêndido,
Não se arrepende

Quem sabe agora
Dê o passo,início
Que insiste em retroceder
Quem sabe,chora
Nas bonecas estocadas
O canto que nunca foi ouvido,
Nos sorrisos inocentes
O amarelar da precoce malícia
Que murcha o botão de flor
Menina que cresceu

Mas olha!É forte
Mantém em seu peito
O desvelo angustiado
De quem há muito,
Está programada
Síntese prolixa
Pincéis que ruborizam
Elegância que amofina

Mas vejam,como roda
Saudosa esta senhora
Recorda-se das brincadeira infantis
(As que foi renegada)
Nos braços desse homem
E de tantos outros,
Que mal conhece...
Não mais se percebe
Quanta entrega!
Que maravilhoso espetáculo
É vê-la rodar,
Não lhe falta nada
Além da vontade de parar

Seus homens se cansam
e outros ansiosos tomam seu lugar
Dançar com tal dama
É toxina que vicia
É fada virgem fugidia
É o mel dos lábios da donzela

Mas minha amiga,
Volte para esse mundo
essa noite também já terminou
Ponha seu vestido no lugar
Limpe os suores que escorrem
Sorria docemente
E agradeça a cortesia
De ter vivido sua vida inteira
Durante esse luar,forasteiro
Está pronta para a morte
que a segue,que a espera
Para o futuro incerto
Que persegue
E pelo pé a embaraça
Pelas escadarias a arrasta
E nem ao menos o sapato
Solução tão singela
Deixará para o resgate

Está presa
Pelo invólucro indecente
De sua graça,majestade
Rainha de sua vida
Por uma noite inteira

domingo, 1 de março de 2009

Ao caralho com os subterfúgios conscientes,de uma mente que dorme...mal respira.
As favas com as delongas,as meiguices,a vã castidade com a qual as meninas se pintam.
Ao inferno Você,com suas mentiras cômodas,com sua poltrona em meio,com um mísero jantar.Estão mortos.
Cansei de ser rodeada por aquilo que não sou.E quando vejo meu reflexo,não me vejo,mas vejo-os:silenciosos,tristes e mau amantes.
Me recuso a ser o que estou fadada para sê-lo,desde antes de nascer;minha primeira saudosa morte.
Coroemos então,as primeiras mortes,não a um tolo qualquer.Ele mente,fingindo-se tolo.Bebam avidamente,sugam da fonte a ambrosia envenenada,o néctar de suas rotinas e indagações silenciosas.
Quero meu parto,minha entre-partida,meu seio pelo tecido;minha primeira,bela e unica morte de volta!
Estou cativa,sem que dessa vez o deseje.


Desculpem-me,pelas irregularidades,pelos erros,ou sei lá o que tem aí em cima.quis o texto ficasse da manerira como foi feito,de fôlego,salvo pequeníssimas mudanças que fiz posteriormente.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

O grito sussurrado em uníssono
A prece pálida,febril
O descompasso do ritmo sincronizado
Um sorriso que já não é infantil

Passos dados ao largo
Dados que revelam uma face
Fase viciada de abstinência


De negrito,ela se pinta
Mas não revela.
No reflexo dos olhares
Vê seu próprio pedido de ajuda
E sorri
Imbecil mente

Há ruídos do outro lado da porta
Por aqui ainda reina o silêncio.
Cores mesclam-se na sua frente
Na irrealidade ainda há sobrevivência

Da janela,respira o ar estagnado
De seu interior,presente
Outro ser,se alimenta

Observa-se de vários ângulos
De todos nada há,além daquilo
Que lutara para não ser
Questão obsoleta
Para que agora seja tratada

Não há pessoas,nem amigos
Objetos,botões de fácil acesso
Amenizando sua direção,
Só por ser contrária
Por estar ao sul da sua chegada.
Está onde queria pelo avesso
Tem o que precisa pelo lado esquerdo...

Mas não se cansa
Nem pensa em desistir
Tem coisas em sua
Pelas quais,não vale mais a pena resistir

No banco da igreja
Ouve as canções do coral
Tão indecente!
Maravilha-se com os dons
Que deus deu ao Homem
Para que o homem desse a Deus

Está num círculo
Comprimida como raio
Divertindo-se conforme pode
Conforme bebe
Conforme usa
Com forma rotulada e desprezada
Por não ser melhor
Que sua própria embalagem

Despreza-se

Fecha a janela e abre a porta.
E tarde demais
Tenta reverter seu caminho
Está cruzada


Maldito inconsciente subjetivo...

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Senti de repente
Uma vontade imensa de dormir,
Cerrei meus olhos
E caí na imensidade
Do abismo que há em mim

Acordei suando
Em um grito engasgado
Vesti-me e corri
Para o privativo espaço da rua

Em cada passo
Um fôlego a menos
Em cada respirar
Alguns centímetros a mais
Em minha lama
Em meu repugnante subtrair

Observei entediada
O entrevir de perdidos
Tão,ou mais
(ou menos)
Conscientes do que eu

Estendo minha mão para todos os que passavam
Ora pedinte,ora afável,ora inquisidora
Fui para todos
Apenas com aquela mão estendida
Tudo aquilo que os afligiam

E num sorriso seco
Então percebi
Que aquele simples gesto
Que fez o pesadelo reprimido
Surgir num segundo
Na vida de alguns
Aquele pequeno gesto
era meu próprio abismo

Fragmentei-me
Via-me espalhada na calçada
Via-me pelos olhos dos que passavam
Louca,vã,vulgar,medíocre
Via-me!
Como estava
Nua

aos tropeços
Recolhi meus estilhaços
E num entendimento absurdo
Dancei
Tão nua como alua
E,como em suas fases
de minguante que estava
Cresci
E quando cheia
Me renovei

E como brilhava
No novo entendimento do meu nada
Respirar não era mais uma obsessão
O caminhar menos pedregoso se tornou
Minha realidade milimetrada
Num lampejo de alucinação
em um nuance de loucura
Ficou mais leve
Menos palpável
E em meio do meu abismo
Encontrei-me com postiças asas
Frágeis,frias
Mas que me sustentavam!

Meus devaneios eram tantos
Meu sentir tão abstrato
Que não sei como
Despertei
Ainda estava nua
Mas na mesma cama
Onde tudo iniciara

Despedacei-me novamente
Mas dessa vez
Não encontrei minhas asas
E sinto mais forte
O subtrair incessante
Tornei-me num relance
O avesso do que completara
O instante do meu entender
Por uma noite fui
Tudo aquilo que precisara ser

Mas agora acordei
Fechei meus olhos
Talvez para sempre
Pare o que aspiro ser

Então vesti-me
Saí para o aconchego
da invasiva rua
Estendi minha mão
E continuei meu papel
Observadora ocular
Do desconforto que causo
aos que passam
E a mim
Que fico


Quem acompanha meu blog desde o começo,vai perceber algumas idéias repetidas.Perdoem-me,mas não é repetitivo,é necessariamente representativo à algumas fases da minha vida...pois bem,as piores delas voltaram,de uma vez.Então preparem-se porque os reflexos não irão embora.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Nas estações da minha vida
Estaciono
E indolente
Espero o estio passar
Submersa em meu silêncio
Me recolho ao frio desses olhares
Que questionam
Que oprimem
Que hipócritas
Finjem que não compreendem

A garoa perfura a alma
E de companheira
Tenho árvores secas,retorcidas,doídas
Que ainda assim
Creêm mais que eu

Vago nessa neve suja
E lenta,continuamente
Me vergo sob o peso do céu
Mais belo e impenetrável
Que o mais puro marfim

Me lembro,nostálgica
Da época que permiti que minhas
Pobres folhas caíssem.
Em cada uma
A recordação daquilo
(que hoje)
Sei que não posso substituir

Aventure-se
Gritava meu espírito
E como forasteiro
Que nada tem a perder
Não temi
Dei o passo incomensurável
Dos que perderam a razão
Restando-lhes somente a coragem

A tamto tempo
Me atei aos restos
Do que fora
Que estou presa
Entre meus galhos mortos
Nada há,do que foram outrora
São ressentimentos
Vingança,rancor
Dissimulados
Preparam-me a cama com espinhos
E o café com cicuta

Sou tão amarga quanto eles
Aplaudo em torpor
O espetáculo do predador.
Sou a garoa,a neve,os galhos,
o estio.
Sou tudo quanto seja necessário
Para que não tenha que sentir a dor
O medo intangível
De então,finalmente,
Florescer

Estou murcha,
Desde muito antes de nascer.



Que saudade do meu blog!!!Voltarei a escrever nele regularmente agora.(Sensação de que estou falando sozinha,hehe)