quarta-feira, 23 de abril de 2008

Dança de Rua

Hoje eu acordei com vontade
De dançar nua
Na rua em movimento
E,ao me despir
Percebi
Que a púbis e os seios que mostro
Não é o nu
Apenas imagem transviada
É fetiche de asas
Que não crescem

Mas eu queria dançar nua
Porque acordara
Então,
limpei meu rosto de expressões
E meu corpo de movimentos
E dancei na rua cheia
Mas não estava nua
Estava vazia
Pronta a recalcar-me de marcas
A me cobrir

Estaquei
Entendera afinal...

Eu queria dançar

Pois acordara nua
E ao me despir
Ao tentar me esvair
Apenas vestira
A minha verdadeira nudez


Acordei
E escondi meu rosto
Em um sorriso
Pois dançava nua
Na rua cheia
Na noite vazia
No amanhecer tardio
No florescer repentino
Na madrugada que rompe e rompia

Dançava nua
Pois acordara
E acordada
Dançava nua
Pois acordara
E mais uma vez rodava

E hoje
Me balanço
Em meias-voltas
Entre pessoas que nem imaginam
que danço nua entre elas
Pois estão tão concentradas quanto eu
A rodopiarem em sua bela nudez

Pois acordamos



*É irresistível não contar o primeiro comentário que tive desse texto.Eu o fiz na rua,enquanto dançava,e,quando cheguei em casa,queria uma opinião.Pensei,minha mãe!Então coloquei "Baudelaire" como assinatura pra ela não saber que eu escrevo essas coisas e nem ser influenciada por eu ter escrito.Ela leu,olhou para mim e disse: "Você precisa aprender o que é poesia,fica lendo essas merdas que vai contaminar você com essa porcaria." É incrível o quanto funcionamos a estimulantes...

quarta-feira, 16 de abril de 2008

O sorriso seco
O eco percorre
Meus sonhos despertam
Objetivo abjeto

A lenda é cais
Navio negreiro de liberdade
Mármore que racha e quebra
Olhar sereno brilhando,desespera

O fim uma reta
A curva, temporária salvação
O medo daquilo que reside
Insiste em afligir

Quem sabe um ser
Um dogma desconhecido
Mentira e verdade
Completam-se para existir

O alívio relaxa
A tensão do que tenciona
Tentar,ousar,lutar
Desistir enfim,quando alcança

terça-feira, 8 de abril de 2008

Efeito Colateral

E de repente
De modo tão doce quanto veio
Vai ao longe
Lá,além do distante
Meu saber oboleto
Do que venho a ser realmente
Se dispersa
Tão fulgás!
O sorriso que me empenhei em desenhar
Escorre por entre os dedos
Os dedos
As unhas
Os cabelos
As formas sevão
Pelo vão em que vislumbrei o outro mundo
Com seus prédios que cobrem céu
E as grades que dividem
A grama suja de urina
Do cão uniformizado e cansado
De seu árduo trabalho escravo
Em que ganha em promoção
A lavagem que os porcos lhe dão

E respostas imediatas
Para questóes intermediárias
De razão
Paixão
E ilusão
Se concretizam
Num virar de páginas

As luzes brilham mais fortes
quando nos apagamos da visão
Que nos acostumaram a ver
Os passos não indicam mais o caminho
Mas passeiam a esmo
encontrando aqui e acolá
Uma pegada
Em nossas descobertas virgens

E virgens são as atitudes
Por mais repetidas que já tenham sido

Estou no início de uma nova era
uma nova vida
Novas escolhas
Sem que contudo
Nenhuma delas seja inédita
Nada na verdade é novo
A verdade é nova de uso
É apenas o início
De descobertas há muito feitas
Refeitas e vividas
Porém esquecidas

Esqueço ou aprendo?